04/05/2013

REAL COMPANHIA VINÍCOLA

(1899) "Real companhia vinícola"
(sem indicação do fundador)


"É mais um dos vários impasses que o nosso Concelho enfrenta. É mais um dos projectos que não sai do papel, que não chega a conclusão nenhuma, que mais não tem sido do que uma série de intenções, projectos, promessas e anúncios. Como tantos outros exemplos, o processo da “Real Companhia Vinícola” tem vivido vários retrocessos. Muitos projectos já houve para aquele espaço, para revitalizar um espaço centenário, que se confunde com a própria história de Matosinhos e que definha, a cada dia que passa, votado ao abandono e à degradação. Lembro, apenas, alguns dos projectos já anunciados e prometidos para a “Real Vinícola”: um hotel de charme, uma escola de hotelaria, uma enorme praça “à espanhola”. Vários destinos, mas nenhuma decisão ou concretização. Esteve, também, para acolher o tão ambicionado e falado Centro de Ciências e Tecnologias do Mar. Opção que, aliás, sempre defendi para aquele espaço, que deveria e deverá acolher um equipamento público, capaz de dar vida não só ao espaço em si, como à zona envolvente, colocando, definitivamente, um ponto final na degradação e vandalismo de que tem sido alvo. A verdade é que, até hoje, nada aconteceu. Nada passou da intenção e do papel. A Câmara anuncia, agora, que a prioridade é recuperar o espaço, colocando de parte a demolição. O objectivo, segundo o que agora, através da imprensa, é anunciado, passa por reabilitar o conjunto de edifícios e nunca demoli-lo, sem quererem, no entanto, avançar com maiores pormenores sobre o projecto em concreto. Obviamente, a ser verdade mais esta intenção, não poderei deixar de estar de acordo. Até porque sempre afirmei – e volto a reafirmar no que, também, a este caso diz respeito – destruir pedaços da nossa memória e do nosso património é, de facto, sempre um erro histórico e estratégico. Este edifício, que ocupa 11 mil metros quadrados, está em vias de classificação como Património Arquitectónico, propondo o Plano de Urbanização a sua salvaguarda e o uso de equipamento público. Por isso, também por isso, temos de estar atentos. Até porque não temos, no mínimo, como ficar tranquilos com este – mais este – anúncio por parte da Câmara de Matosinhos. Basta lembrarmos o que aconteceu com a “Algarve Exportador” e a “Rainha do Sado”. Dois espaços que fazem parte da nossa memória colectiva, da nossa história e do nosso património e que foram completamente arrasados e destruídos. E, acima de tudo, não para ali vermos nascer uma zona arborizada, um jardim público, um espaço de equipamentos públicos, uma zona para o cidadão poder usufruir, respirar, sentir e viver a cidade. Não. Dois pedaços extremamente importantes da nossa história foram arrasados e demolidos para ali nascer mais betão armado. Para ali nascer mais habitação, onde esta já não é mais necessária. Para ali nascer um hotel e que apenas aparece para branquear um processo especulativo. Por isso, também por isso, temos de estar atentos. Não podemos deixar mais um elemento da nossa memória ser arrasado, sobretudo, para, uma vez mais, fins especulativos. A “Real Vinícola” foi o primeiro edifício industrial construído em Matosinhos Sul, entre 1897 e 1901. Os edifícios dispõem-se no perímetro do quarteirão, deixando no interior um enorme pátio, onde a linha férrea, que fazia ligação às docas do porto de Leixões, tinha o seu terminus. Foi o primeiro edifício a possuir uma das primeiras estruturas fabris a vapor da Região. Falamos de quase um quarteirão da nossa cidade que, por todos estes motivos, deve, sim, ser recuperado. O mais rapidamente possível. E com um único objectivo: a sua devolução à cidade e aos cidadãos."

(NARCISO MIRANDA, in "Jornal Matosinhos")
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