06/04/2015

FLORBELA ESPANCA

Nascida em Vila Viçosa (1894.12.08), foi uma poetisa portuguesa. A sua vida, de apenas trinta e seis anos, foi plena, embora tumultuosa, inquieta e cheia de sofrimentos íntimos que a autora soube transformar em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotização, feminilidade e panteísmo.

Flor Bela Lobo. Assim baptizada com ausência de progenitor reconhecido. Apesar de ser filha biológica de João Maria Espanca e Antónia Conceição Lobo (mãe de aluguer à época) em virtude de a sua mulher não poder conceber. Foi, contudo, criada em casa do seu pai biológico e da esposa Maria do Carmo Inglesa (madrinha de Florbela). O apelido Espanca é-lhe atribuído após reconhecimento de paternidade (a ela e seu irmão) posteriormente à morte da esposa.

(1903) As suas primeiras composições poéticas: o poema "A vida e a Morte". O soneto em redondilha maior em homenagem ao irmão Apeles. Um poema escrito por ocasião do aniversário de seu pai: "No dia d' annos".

(1907) Escreveu o seu primeiro conto. "Mamã!". No ano seguinte, com apenas vinte e nove anos, a sua mãe Antónia, faleceu. Ingressou no Liceu Masculino André de Gouveia, em Évora, onde permaneceu até 1912. Tomou conhecimento das obras de Balzac, Dumas, Camilo Castelo Branco...

(1913) Em Évora, casa com o seu colega de escola, Alberto de Jesus Silva Moutinho. Os anos seguintes ficam caracterizados por dificuldades económicas e constantes mudanças de habitação.

(1916) A poetisa reuniu uma selecção da sua produção, inaugurando o projecto "Trocando Olhares". A colectânea de oitenta e cinco poemas e três contos serviu para, mais tarde, ser o ponto de partida para futuras publicações. Na época, as primeiras tentativas de promoção falharam.

(1917) Sofreu as consequências de um aborto involuntário, que lhe teria afectado os ovários e pulmões. Repousou em Quelfes (Olhão), onde apresentou os primeiros sinais sérios de neurose.

(1919) Saiu a sua primeira obra "Livro de Mágoas", um livro de sonetos. A tiragem, de duzentos exemplares, esgotou-se rapidamente.

(1920) Separada de Alberto Moutinho, desde 1918, pouco tempo após o seu primeiro aborto involuntário, passou a viver com António José Marques Guimarães, alferes da Guarda Republicana. Fixou-se em Matosinhos. O divórcio só viria a ser reconhecido em Janeiro de 1921. Após o casamento, passou a viver no próprio destacamento, no Castelo da Foz.

(1923) Separou-se do seu segundo marido em Novembro. Na sequência de maus tratos infligidos e de novo aborto involuntário. O processo de divórcio inicia-se em 1924 e decretado em 1925. Esta situação abalou-a muito.

(1926) Regressou a Matosinhos, após o seu terceiro casamento, com o tenente-médico Mario Lage (havia sido colega de guarnição de António Guimarães, em 1920, na Foz). Florbela padecia de vários problemas de saúde, tendo sido este médico a tratá-la. Mudaram-se para a casa da família do médico, na Rua 1º Dezembro, em Matosinhos. É aqui que, finalmente, encontra um lar onde todos a tratam bem. Passa as tardes na areia doirada, olhando o mar inquieto e que ela admirava tanto.

(1927) Começou a traduzir romances. No mesmo ano, Apeles Espanca, irmão da escritora, faleceu num trágico acidente de avião. A sua morte foi absolutamente devastadora! Em sua homenagem, escreveu "As Máscaras do Destino". Entretanto a sua doença mental agravou-se, ao ponto de efectuar a primeira tentativa de suicídio.

(1930) Começou a escrever "O Diário do Último Ano". Tentou o suicídio por mais duas vezes, Em Outubro e Novembro, na véspera da publicação da sua obra-prima "Charneca em Flôr", com a ajuda do professor italiano Guido Bottelli!

Não resistiu à terceira tentativa de suicídio, pois foram encontrados, debaixo do colchão, frascos vazios de um soporífero que tomava regularmente. No dia do seu 36º aniversário, faleceu em casa. Na certidão de óbito, pode ler-se "edema pulmonar", como causa. Depois das exéquias fúnebres, foi a sepultar no Cemitério Sendim.

(1949) O "Orfeão de Matosinhos" colocou uma placa, em gesto de homenagem, na casa onde a poetisa viveu, trabalhou, e morreu.

(1964) A 17 de Maio, os seus restos mortais foram trasladados para a sua terra natal em Vila Viçosa.

(2015) A placa ainda existe na fachada do edifício. Que apresenta um elevado estado de degradação. O património encontra-se abandonado, esquecido e devoluto...
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5 comentários:

  1. Anónimo7/4/15 20:25

    Caro Miguel, parabéns pela memória aqui criada da brilhante poetisa que foi Florbela Espanca. Permita-me contudo chamar a atenção para algumas imprecisões (tendo por base a mais recente biografia da poetisa sustentada em trabalhos de investigação anteriores, mormente de Rui Guedes, e nas cartas da autora).
    - Flor Bela Lobo, é assim baptizada com ausência de progenitor reconhecido, apesar de ser filha biológica de João Maria Espanca e Antónia Conceição Lobo (mãe de aluguer à época) em virtude da a mulher de J.M.Espanca não poder conceber; Florbela foi no entanto criada em casa do seu pai biológico e da esposa Mariana do Carmo Inglesa que foi madrinha de Florbela; O apelido Espanca é-lhe atribuído após reconhecimento de paternidade (a ela e ao seu irmão) por J.M.Espanca posteriormente à morte da esposa;
    - quando se lê que Florbela começa a viver com António J.M.Guimarães em 1920, apesar de casada (deixando a imagem de adultério) conviria referir que Florbela se separara de Alberto Moutinho em 1918 pouco tempo após o seu primeiro aborto involuntário; o divórcio só viria a ser reconhecido em Janeiro de 1921;
    - só de facto em 1920 Florbela começa a viver com António Guimarães, com quem já mantinha relações, na sequência do destacamento do marido como oficial da GNR para a guarnição do Castelo da Foz; viveu temporariamente com o marido em Matosinhos, na Rua do Godinho, e após o casamento em 1921 passou a viver no próprio destacamento; Florbela separa-se do seu segundo marido em Novembro de 1923 na sequência de maus tratos infligidos por aquele e de novo aborto involuntário; o processo de divórcio inicia-se em 1924 e é decretado em Junho de 2025
    - Florbela regressa de facto a Matosinhos em 1926 após o seu terceiro casamento com o médico Mário Lage; note-se que Mário Lage havia sido colega de guarnição de António Guimarães, na Foz, em 1920, e desde cedo passou a assistir Florbela como médico.
    Espero que não me leve a mal ter tido a ousadia de deixar aqui estas breves notas.
    Um abraço,
    Celso Cordeiro

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    1. Um enorme agradecimento ao Celso Cordeiro por este tremendo contributo! O texto inicial foi actualizado, com base nas suas indicações. Tal envolvência, participação e partilha de memórias são a razão deste trabalho.

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  2. Anónimo7/4/15 22:55

    Trabalho explicativo sobre a vida e obra de Flor Bela Espanca do Miguel,mas notavelmente enriquecido pela referencia do poeta matosinhense Celso Cordeiroque demonstra um profundo conhecedor desta grande figura das Letras portuguesas .O meu obrigada aos dois.

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  3. Miguel Correia, por favor leia o comentário que fiz ao video da casa no youtube e, se puder, esclareça-me.
    Abraço.

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